Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A questão da Igreja. Por que as críticas?



Hoje em dia ouvimos muitos comentários, opiniões e críticas em relação à Igreja como instituição. Nesse mar de discussões e questionamentos sobre a religião, a fé cristã e, particularmente, sobre a Igreja, estamos nós cristãos – não só católicos, mas também de diversas outras Igrejas – e muitas vezes não sabemos bem o que pensar, o que responder ou como nos posicionar diante dessas opiniões, de modo especial daquelas de cunho anti-religioso ou anticlerical.

Será que existe algum outro jeito melhor para nós cristãos entendermos  esses questionamentos e críticas  do que tentarmos aprender mais sobre a nossa fé, a religião no seu sentido mais profundo, e sobre a Igreja da qual  fazemos parte; esclarecer  o  que “ficou” não esclarecido anteriormente  (a “fé infantil e ingênua” deve virar “fé adulta e madura”), e tomar “em nossas próprias mãos” toda a responsabilidade do nosso encontro pessoal com Jesus Cristo Deus, o que necessariamente refletirá no nosso compromisso de sermos instrumentos de Deus neste mundo?  Se fizermos isso, não haverá mais motivos para temermos qualquer questionamento ou crítica. Em outras palavras: ninguém e nada poderá nos separar do amor de Deus.   “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor”  (Rom 8, 38-39).

Aliás, nós mesmos devemos ser cristãos conscientes, devemos ser críticos e questionadores quando nos deparamos com as coisas erradas que existem no mundo e nas instituições humanas. Essas coisas também podem existir - e de fato existem - na Igreja, e existem em nós e a nossa volta. No entanto, teremos essa capacidade de fazer uma crítica construtiva, consciente e caridosa (que deve ser como uma  espécie de bússola, sempre nos orientando na única direção certa: Deus) se tivermos uma fé  esclarecida e autêntica.

Considero muito importante refletirmos sobre a Igreja, observando diversos aspectos, tentando compreender melhor a sua razão de ser e sempre procurando as  respostas para perguntas chaves: O que é a Igreja? Por que existe? Até  que ponto a vontade de Deus está corretamente realizada pelos homens? Em que pontos ou sentidos o elemento humano, dentro da  Igreja, tenta impor, e  realiza na prática, “a sua própria vontade” em nome de Deus? Como explicar que essa Igreja existe, apesar de todos os  "ventos e furacões" da história, desde o Pentecostes até hoje?

Na minha opinião,  quanto mais conseguirmos “conhecer” a Igreja e apurar a nossa  visão para ver claramente como ela deveria ser por vontade do Cristo e como ela é  - ai sim, teremos a condição de nos  posicionarmos corretamente, sem medos e receios, diante das críticas e questionamentos que a  ela são dirigidos.

É sobre o tema da Igreja que serão as próximas reflexões no blog Indagações. São os textos de autoria de Ferdinand Krenzer¹, que podem nos ajudar a todos nós a compreendermos melhor a questão da Igreja. O autor dirige essas reflexões para os cristãos de modo geral,  principalmente para os jovens.

Para começar,  o texto embaixo fala sobre os questionamentos e as críticas dirigidos  à Igreja nos dias de hoje.  
A leitura é muito agradável e fácil.
Não deixe de ler.
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A Igreja

Para muitas pessoas  verdadeiras dificuldades em relação à fé só  começam com o problema de Igreja. Que existe Deus – acreditam quase todos. Que Jesus Cristo trouxe-nos a revelação Divina – muitos não  têm dúvida e outros tantos pelo menos  gostariam de crer nisso. Mas,  que seria necessária a Igreja para ter a fé  – aí tem muita gente que não aceita e nem consegue entender essa questão.

Acrescentemos aqui que a Igreja, atualmente, passa por um período de intensos acontecimentos, questionamentos e mudanças. E isso acontece não somente com ela. Em toda a nossa sociedade estão acontecendo rápidas e profundas mudanças. Se a Igreja não sofresse essas mudanças estruturais  poderíamos suspeitar, e com toda razão, que ela não acompanha o ritmo de vida no mundo.  No entanto - e sem dúvida - a Igreja vem sofrendo essas mudanças de forma particular. Hoje, até mesmo os fieis perdem a  confiança na Igreja. Uns querem e exigem que ela se adapte radicalmente aos tempos de hoje. Outros  ficam frustrados, porque consideram exageradas demais as adaptações que a Igreja fez até agora para acompanhar o espírito do tempo.

Não vamos neste momento pensar nas pessoas que rejeitam a Igreja para  se sentirem livres do compromisso real. Isso acontece  também.  Não queremos também, agora, nos debruçar  sobre a crítica em relação aos sintomas externos da Igreja, como a  mediocridade dos cristãos agarrados à tradição, atraso e uma posição negativa frente ao mundo, falta de tolerância,  burocracia e administração deficientes, várias desilusões do passado, etc.  Tudo isso precisa ser tratado com devida  seriedade, mas o questionamento vai  ainda mais longe e é mais profundo.

Cada vez mais freqüentemente encontramos cristãos sérios e de muita fé, que rejeitam qualquer necessidade de pertencer a alguma comunidade eclesial. Para eles a fé é a  questão exclusivamente de convicções íntimas e internas de cada pessoa, por isso ela não precisa de instrumentalização externa como a casa de Deus, os  ritos, cerimônias, sacerdotes, paróquia, etc. Tudo isso para eles é dispensável. Dispensável, portanto, é a qualquer “instituição”. Segundo eles o ser humano  é cristão unicamente pela entrega de si ao Cristo, na fé, e isso – como dizem – pode funcionar perfeitamente sem  precisar de alguma instituição intermediária. “Cristo – sim, Igreja – não” - assim muitos formulam a sua moderna compreensão do cristianismo.  “Somos cristãos mas não eclesiais!”.

Por outro lado, justamente hoje está surgindo fora da Igreja católica uma nova consciência de Igreja. Cada vez mais forte torna-se a convicção que “nenhum homem fica sozinho quanto a sua relação com o Evangelho”; que a Bíblia só pode ser entendida corretamente dentro da Igreja. Aqui, uns enxergam na Igreja uma instituição muito  necessária, mas apenas humana. Para outros (e este  é o ensinamento católico) a Igreja com as suas raízes alcança a vontade de Deus: não surgiu por acidente, mas existe por ordem de Cristo.

Para abordar o tema da Igreja precisamo-nos servir da Bíblia. A Igreja é uma comunidade de pessoas que acreditam, e por isso como tal só pode ser entendida pelo lado da fé e pelo  lado de Cristo.

O que queria Jesus Cristo?

Queria Ele trazer para nós a notícia de Deus? Com certeza também isso. Mas de  que jeito essa notícia pode chegar às pessoas do século XXI? Sabemos que o próprio Jesus Cristo não escreveu nada. É óbvio que aqui  trata se de algo mais e não somente de notícias; se fosse assim, por exemplo, para que existiria o batismo?

Sabemos que Jesus Cristo quis salvar o mundo e o ser humano, quis levá-lo à harmonia com Deus. Mas, então, para que preparou a Ceia e reuniu a sua volta os discípulos? É claro que as suas  pretensões eram maiores.

O ser humano por sua natureza tem como destino viver em comunidade. Porém, o pecado destrói  não só a sua comunhão com Deus, mas também desune  os homens entre si. Por causa disso a obra de Cristo tem a importância não só para o indivíduo. Jesus Cristo faz com que as pessoas novamente se unam e não somente com Deus, mas também entre si. João diz que Cristo morreu “para reunir numa unidade os filhos de Deus dispersos“ (Jo 11, 52). Entendemos agora por que Ele constantemente fala do “Reino de Deus”.  Jesus Cristo quer nesse Reino criar a comunhão entre todos os seres humanos, de todos os povos e todos os tempos. Nele  Deus será para  sempre para os homens  o seu Senhor e eles serão o seu  povo. Nisso resume-se toda a intenção de Cristo.

Jesus Cristo ensina-nos a rezar: “Venha a nós o vosso Reino”. Quer dizer, o Reino de Deus ainda não está realizado, mas “está chegando”.  Será, então, que tudo isso refere-se ao futuro? E sim, e não.

  (KRENZER, F. Taka jest nasza wiara, Paris,  Éditions Du Dialogue, 1981, p. 133-134)²
Continua...
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¹  Krenzer Ferdinand (nascido em 22 de maio de 1921 em Dillenburg, Hesse, 08 de maio de 2012 em Hofheim am Taunus) foi um teólogo católico alemão, sacerdote e escritor na aposentadoria.

² Obs.: As reflexões do Ferdinand Krenzer fascinam pelo seu jeito simples e direto, e agradam o leitor, ajudando-o a entender melhor o caminho da fé cristã e compreender os temas mais difíceis desta doutrina.
Os textos publicados neste blog são tomados do livro Taka jest nasza wiara, desse autor; uma edição no idioma polonês, do qual faço uma tradução livre (para o português).  O título original: “Morgen wird man wieder Glauben”.

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